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quarta-feira, 4 de junho de 2008

OS GUNAS



Dr. Krishan Chopra
Os três Gunas - Sattva, Rajas e Tamas - são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou Prakriti. Para podermos compreender isso plenamente, temos de examinar a interpretação hindu da criação e da dissolução do universo.

Diz-se que de tempos em tempos o universo se dissolve e depois é recriado. Quando ele está em sua fase não-definida, não manifestada, ele permanece em um estado latente no decorrer de um certo período. Durante este tempo, os Gunas encontram-se em um estado de absoluto equilíbrio, e Prakriti ou a natureza material, não se manifesta. Enquanto os Gunas permanecem não-definidos, Prakriti continua indefinido e o universo existe apenas em um estado potencial. Tudo que existe é consciência, o Ser Puro ilimitado (Purusha) e não-manifestado, Brahma, o Absoluto Imutável, que não tem começo nem fim.

Logo que o equilíbrio é perturbado, tem início a recriação do universo. A partir da consciência imutável, o universo, em constante transformação, é mais uma vez criado. Os Gunas participam de uma enorme variedade de combinações e permutações, em que um ou outro predomina sobre os restantes. Isso dá origem à interminável variedade de fenômenos físicos e mentais que formam o mundo que vivenciamos.

Os Gunas são às vezes descritos como energias, outras vezes como qualidades ou forças. Eles representam um triângulo de forças simultaneamente opostas e complementares que governam tanto o universo físico quanto nossa personalidade e padrões de pensamento na vida do dia-a-dia, dando origem às nossas realizações ou fracassos, alegrias ou infelicidade, saúde ou doença. A qualidade de nossas ações dependem das Gunas.

No que diz respeito à ação, Sattva é a força criativa, a essência da forma que precisa se concretizar. Tamas é a inércia, o obstáculo a esta concretização. Rajas é a energia ou o poder por meio do qual o obstáculo é removido e a forma toma-se manifesta.

Examinemos o exemplo oferecido por Swami Prabhavananda e Christo-pher Isherwood em How to Know God (Como Conhecer Deus) (o Yoga Su-tras, de Patanjali). Suponhamos que um escultor deseje criar na pedra uma estátua do Senhor Krishna. A idéia da estátua, a forma que o artista vê em sua imaginação, o impulso criativo e a imagem são inspirados por Sattva. O mármore representa Tamas, a solidez sem forma, o obstáculo que precisa ser superado.

Prabhavananda diz que o próprio escultor também pode encerrar um elemento de Tamas. Ele pode pensar: "Estou cansado; por que eu deveria trabalhar tanto? Isto é difícil demais! Acho que vou fazer algo mais fácil." Mas aqui a força de Rajas vem em sua ajuda. O Rajas se manifesta na ener-gia e na vontade do escultor, por meio das quais ele vence na sua mente a letargia Tamásica e a inércia sólida da pedra. Rajas também inspira o esforço físico e muscular que ele aplica ao trabalho.

Swami Prabhavananda afirma que se uma quantidade suficiente de rajas for gerada, o obstáculo de Tamas será superado e a forma ideal concebida por Sattva será criada no bloco de granito. Este exemplo de-monstra que os três Gunas são necessários para qualquer ação criativa. "Sattva, sozinho", ele diz, "seria apenas uma idéia não concretizada, Rajas sem Sattva seria uma mera energia não direcionada; Rajas sem Ta-mas seria como uma alavanca sem um fulcro; e Tamas sozinho seria a inércia."

Sattva é freqüentemente considerado como representando a pureza e a tranqüilidade; Rajas se refere à ação, ao movimento e à violência; Tamas é o princípio da solidez, da imobilidade, da resistência e da inércia. Os três Gunas estão presentes em tudo, mas um deles sempre predomina. Sattva prevalece à luz do sol, Rajas num vulcão em erupção e Tamas num bloco de pedra.

Na nossa mente, os Gunas se apresentam num relacionamento que mu-da com rapidez. Deste modo, experimentamos disposições de âni-mo diferentes durante o dia.

Se Sattva predomina, podemos ter momentos de inspiração, de afeto desinteressado, de alegria tranqüila ou calma medi-tativa. Sattva representa a pureza, a luz, a inteligência, o conhecimento, a satisfação, a clareza mental, a bondade, a compaixão e a cooperação. A calma e a paz prevalecem numa pessoa ou numa disposição de ânimo Sattvica. As qualidades da pessoa na qual Sattva predomina incluem a coragem, a integridade, a pureza, a capacidade de perdoar e a ausência da paixão, da raiva e do ciúme. Esta pessoa é calma e feliz. Quando Sattva domina, a mente toma-se firme como a chama de uma lamparina num local onde não há vento. A mente equilibrada ajuda tanto a atividade quanto a meditação, e aquele que é predominantemente Sattvico pode meditar com eficácia e é capaz de ter uma verdadeira concentração.

A pessoa com Rajas dominante nunca fica em paz. Rajas provoca explosões de raiva e gera um desejo intenso. Ele toma a pessoa inquieta e descontente, e dá origem a uma contínua atividade. A pessoa com Rajas dominante não consegue permanecer sentada, quieta; ela precisa ter sempre algo para fazer. A grande paixão é Rajas, assim como a agressividade, a ganância e a raiva também o são. Ao mesmo tempo, Rajas na sua expressão mais positiva, especialmente quando combinado com Sattva, é responsável por uma atividade construtiva e criativa, pois gera energia, entusiasmo e coragem física.
A pessoa Rajásica adora o poder e os objetos dos sentidos. Ela se apresenta em constante atividade e anseia sempre por mais poder para ser capaz de dominar os outros; ela também é muito apegada às coisas materiais. A manifestação direta do Rajas dominante é a chama insaciável do desejo. Os desejos precisam ser satisfeitos, caso contrário a vida da pessoa toma-se deplorável! Quanto mais ela consegue satisfazer os desejos, mais ela quer. Ela sempre quer mais - um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais... Ela conquista riqueza, poder, reputação e fama, mas nunca é suficiente.
Quando Rajas é intenso, ele encobre o conhecimento e toma-se inimigo da sabedoria. Sob a pressão de Rajas, o homem alimenta ganância, luxúria e raiva. Rajas ataca a pessoa através dos sentidos, da mente e do entendimento, iludindo a alma encarnada. Para que a pessoa tenha uma vida proveitosa e paz de espírito, Rajas precisa ser apaziguado e equilibrado com Sattva.

"Tamas", diz Swami Prabhavananda, "é atoleiro mental no qual afundamos sempre que Sattva e Rajas deixam de prevalecer." Quando Tamas prevalece na nossa mente há pouco ânimo, externamos algumas das nossas piores características: preguiça, burrice, obstinação e um desespero forte e profundo. Tamas é freqüentemente descrito como a escuridão e a inércia. O desamparo, o embotamento, a confusão, a resistência e a ignorância também são características de Tamas. Quando ele domina, a mente pode ficar esquecida, sonolenta, apática e incapaz de qualquer ação ou pensamento proveitoso.
A pessoa dominada por Tamas pode se parecer mais com um animal do que com um ser humano; sem poder fazer um julgamento claro, ela pode deixar de distinguir entre o certo e o errado. Como um animal, ela viverá para si mesma e poderá ferir os outros para satisfazer seus desejos. Na sua ignorância e cegueira, ela poderá praticar ações perversas.

”Sattva adere à felicidade, Rajas à ação, enquanto Tamas, verdadeiramente encobrindo o conhecimento, adere à negligência.”

BHAGAVAD-GITA (14:9).